Archive for setembro \09\-03:00 2008

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Yuri & Shoujo-Ai

setembro 9, 2008

Clichês

Apesar de um pouco desprezadas e estigmatizadas as situações shoujo-ai/yuri estão presentes em muitas obras, mesmo que para isso os fãs precisem “ler nas entrelinhas”.
Algumas personagens como Haruka de Sailor Moon e Juri do animê de Utena são muito carismáticas e sempre dominam a cena quando aparecem. Fora isso, torna-se comum a produção de animês declaradamente shoujo-ai, caso de Maria-sama ga Miteru e do novíssimo Simoun que teve dois mangás, um shoujo/yuri na Yuri Hime e outro shounen na revista Megami. Talvez uma das coisas maisrecorrentes no material yuri e shoujo-ai feito para um público mais jovem é a presença de uma representação muito rígida de papéis com a menina machona/tomboy de cabelo curto, alta, forte e destemida, que fala usando “boku” (“Eu” masculino) ao invés de “watashi” (“Eu” neutro), que ama a menininha pequena e meiga, no mesmo estilo do que acontece o uke e seme do yaoi.
Engraçado é que nos mangás da década de 70, isso é mesmo freqüente e a série Utena também não se vale disso. Prevalece ali o modelo da irmã mais velha, onee-sama, o akogare, que pode ser visto em Maria-sama ga Miteru, em Anatólia Story (Yuuri-Alexandra), em Oniisama E, Ace Wo Nerae e tantas outras séries. Também as obras para mulheres mais velhas essa oposição esquemática parece não fazer tanto sucesso. Afinal, quanto mais realista melhor e não existe muito espaço para kawaiices.
Dito isto, mesmo essa representação rígida de papéis “femininos” e “masculinos” não constitui uma regra. Agora, uma coisa que me alegra muito é não ter visto (ainda) a representação do sexo ou relacionamento de forma sadomasoquista, com estupros e coisas do gênero, em material yuri/shoujo-ai feito por mulheres e para mulheres.

Influência do Takarazuka?

Muitas pessoas associam essa caracterização do par lesbiano à influência do Teatro Takarazuka. Criado em 1914, o Takarazuka junta várias influências, como o teatro de revista, musical americano, Kabuki, Nô, teatro, entre outros. Nele, as mulheres representam tanto os papéis masculinos quanto femininos e recebem um treinamento muito rígido para incorporarem os maneirismos de gênero, já que as atrizes, ainda na sua formação, são designadas para serem homens ou mulheres e fazem o mesmo tipo de papel durante toda a carreira.
Ainda hoje, a idolatria (o akogare) em relação às atrizes do Takarazuka é imensa, principalmente em relação àquelas que fazem os papéis masculinos (otokoyaku). Interessante é que esse tipo de tietagem, que no Ocidente soaria como homossexual, acontece também nos mangás e animês shoujo, como em Utena, por exemplo.

Lesbos, Safo, Grécia…

Como falei em Ilha de Lesbos, é preciso explicar. Lesbos fica na Grécia e o termo lésbica ou lesbiana deve-lhe o nome. Tudo por conta de Safo, a mais famosa poetisa grega. Safo nasceu em Lesbos no século VII a.C. e cantava o amor e a amizade entre as mulheres. Pouco sobrou de sua obra e acredita-se que parte dela tenha sido deliberadamente destruída depois de sua morte. Apesar de quase nada sabermos sobre sua vida, se realmente ela amava outras mulheres, ganhou fama através dos séculos.

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Yuri & Shoujo-Ai

setembro 2, 2008

Preconceito

Entre as fãs de shoujo, tenho percebido uma explícita preferência pelo yaoi. Em alguns casos, a resistência ao yuri/shoujo-ai é imediata e não raramente a gente ouve um “Não curto essas coisas entre mulheres, não.” Costumo emprestar meus mangás para algumas alunas que lêem inglês – os meninos raramente me pedem – uma delas, que nunca tinha recusado nada, rejeitou Utena com esse argumento. Não ouve argumento, ela nem quis olhar.
Nota-se que para muitas mulheres fãs, existe a idéia de que o yaoi não ameaça sua identidade heterossexual, enquanto o yuri e o shoujo-ai, sim. Afinal, não dá para desmentir o fato de que nos mangás e animês está realmente ocorrendo um romance lesbiano. É como o processo de rejeição de alguns rapazes pelo yaoi. Ele se faz em bases semelhantes. Você esquece a história, as boas personagens e pensa “no que os outros (ou você mesmo) irá pensar”. Outro problema é o desconhecimento. Muita gente só consegue identificar a produção yuri com o hentai, já que esse material se encontra com muita facilidade na net.
Um fenômeno associado a isso tudo é a apropriação das personagens de shoujo mangá – Utena-Anthy, Haruka-Michiro, Tomoyo-Sakura, Yumi-Sachiko – por fãs homens que produzem material hentai muitas vezes carregado de violência e situações humilhantes. E como a oferta de material mais picante é limitada, muitas fãs de yuri e shoujo-ai acabam tendo como referência materiais shonen, como o mangá Hen, ou mesmo o hentai comercial.
Tudo isso é influenciado pelo preconceito arraigado na nossa sociedade, que até já consegue “suportar” a homossexualidade masculina, mas vê a homossexualidade feminina com olhos muito pouco gentis, já que essa põe em risco o domínio masculino por eliminar a sua presença. Afinal, Haruka e Michiro precisam de algum rapaz para se divertir? Só na cabeça de fanzineiro hentai.

Revistas Yuri: Uma empreitada tardia

Sinal de mudança dos tempos, pelo menos no Japão, foi o lançamento da revista Yuri Shimai em agosto de 2003, com uma defasagem de mais de 20 anos em relação à primeira shonen-ai – a June!!! Essa revista traz somente histórias com temática levemente yuri (estou pensando em sexo explícito aqui) e shoujo-ai voltada para adolescentes e que trazia séries longas, one shots, e light novels, isto é, capítulos de livros ou contos. A Yuri Shimai saía trimestralmente e durou muito pouco, sendo extinta em fevereiro de 2005, contando somente com cinco números.
Com o fim da Yuri Shimai, o espaço não ficou vago e as mangakás desempregadas, pois no seu lugar apareceu a Yuri Hime. Seu primeiro número saiu em julho de 2005 e o link para a página oficial da revista está no fim da matéria. De comum, as duas revistas têm as capas delicadas, como vi algumas histórias, sei que a arte varia, mas algumas autoras são muito boas.