Clichês
Apesar de um pouco desprezadas e estigmatizadas as situações shoujo-ai/yuri estão presentes em muitas obras, mesmo que para isso os fãs precisem “ler nas entrelinhas”.
Algumas personagens como Haruka de Sailor Moon e Juri do animê de Utena são muito carismáticas e sempre dominam a cena quando aparecem. Fora isso, torna-se comum a produção de animês declaradamente shoujo-ai, caso de Maria-sama ga Miteru e do novíssimo Simoun que teve dois mangás, um shoujo/yuri na Yuri Hime e outro shounen na revista Megami. Talvez uma das coisas maisrecorrentes no material yuri e shoujo-ai feito para um público mais jovem é a presença de uma representação muito rígida de papéis com a menina machona/tomboy de cabelo curto, alta, forte e destemida, que fala usando “boku” (“Eu” masculino) ao invés de “watashi” (“Eu” neutro), que ama a menininha pequena e meiga, no mesmo estilo do que acontece o uke e seme do yaoi.
Engraçado é que nos mangás da década de 70, isso é mesmo freqüente e a série Utena também não se vale disso. Prevalece ali o modelo da irmã mais velha, onee-sama, o akogare, que pode ser visto em Maria-sama ga Miteru, em Anatólia Story (Yuuri-Alexandra), em Oniisama E, Ace Wo Nerae e tantas outras séries. Também as obras para mulheres mais velhas essa oposição esquemática parece não fazer tanto sucesso. Afinal, quanto mais realista melhor e não existe muito espaço para kawaiices.
Dito isto, mesmo essa representação rígida de papéis “femininos” e “masculinos” não constitui uma regra. Agora, uma coisa que me alegra muito é não ter visto (ainda) a representação do sexo ou relacionamento de forma sadomasoquista, com estupros e coisas do gênero, em material yuri/shoujo-ai feito por mulheres e para mulheres.
Influência do Takarazuka?
Muitas pessoas associam essa caracterização do par lesbiano à influência do Teatro Takarazuka. Criado em 1914, o Takarazuka junta várias influências, como o teatro de revista, musical americano, Kabuki, Nô, teatro, entre outros. Nele, as mulheres representam tanto os papéis masculinos quanto femininos e recebem um treinamento muito rígido para incorporarem os maneirismos de gênero, já que as atrizes, ainda na sua formação, são designadas para serem homens ou mulheres e fazem o mesmo tipo de papel durante toda a carreira.
Ainda hoje, a idolatria (o akogare) em relação às atrizes do Takarazuka é imensa, principalmente em relação àquelas que fazem os papéis masculinos (otokoyaku). Interessante é que esse tipo de tietagem, que no Ocidente soaria como homossexual, acontece também nos mangás e animês shoujo, como em Utena, por exemplo.
Lesbos, Safo, Grécia…
Como falei em Ilha de Lesbos, é preciso explicar. Lesbos fica na Grécia e o termo lésbica ou lesbiana deve-lhe o nome. Tudo por conta de Safo, a mais famosa poetisa grega. Safo nasceu em Lesbos no século VII a.C. e cantava o amor e a amizade entre as mulheres. Pouco sobrou de sua obra e acredita-se que parte dela tenha sido deliberadamente destruída depois de sua morte. Apesar de quase nada sabermos sobre sua vida, se realmente ela amava outras mulheres, ganhou fama através dos séculos.